Os dias passavam ligeiros e
tranquilos. Sentia que meu coração estava cicatrizando. A dor agora
era suportável, apesar de a culpa resistir em me deixar. Naquela
tarde de quarta-feira, tinha acabado de tomar um banho e contemplava
meu semblante no espelho. Tinha recuperado parte dos quilos que havia
perdido e meu aspecto estava um pouco mais apresentável. Entretanto,
aquele cabelo comprido e a barba espessa ainda mantinham em mim um
aspecto sujo, desleixado, com o qual eu não me incomodara até
agora. Nesse dia, tive vontade de tirar aquele monte de pelo e
parecer gente de novo, mas lembrei que não tinha trazido nada para
me barbear.
_É... já tá mais que na hora de
tirar essa barba, amigo._ Disse Sebastião ao me ver mirando o
espelho e pegando na barba.
_Pois é, Tião, você não tem
barba... e não vi nada aqui que possa me ajudar a resolver esse
problema.
_Não se preocupe, Alan. A solução
vai aparecer._ Nesse instante, alguém batendo palmas gritou lá de
fora “Ô de casa!!” _Deve ser mais um paciente. Termine de se
arrumar que eu vou ver quem é.
Me vesti e fui até a sala ajudar no
que fosse preciso, como tinha feito todos os dias desde que chegara
lá. Ao aparecer na sala, uma senhora idosa estava explicando o que
ela sentia.
_Sinto uma dor muito forte aqui “nos
quarto”, seu Tião, mais pro lado das costas. _Falava apontando
para a região lombar.
_Deixe eu dar uma olhada, Dona Maria._
Sebastião encostou as mãos no local indicado, fechou os olhos por
alguns segundos e respirou fundo. _Isso é rim.
_É grave, vou precisar ir pro
hospital?
_Não será necessário. Alan, pega um
copo com água pra mim naquele pote lá na cozinha, por favor.
_Trouxe o copo conforme solicitado e entreguei em sua mão. Ele
segurou-o com uma mão e estendeu a outra sobre a borda. Fechou os
olhos e ficou por uns dois minutos como se estivesse fazendo alguma
oração, assim me pareceu. _Tome, Dona Maria, beba essa água que as
dores irão passar e vai ficar tudo bem._ Disse Sebastião entregando
o copo.
_Deus lhe pague, meu filho. Deus lhe
pague. _Após beber a água, Dona Maria se levantou satisfeita e foi
embora. Não sem antes dar um abraço acalorado em Sebastião.
_Você tá usando placebo pra tentar
curá-la? _Indaguei assim que ela fechou a porta.
_Não. Eu segurei a água e ela
realizou a cura enquanto isso. O líquido foi um símbolo que usei
para que ela acreditasse na cura. Caso contrário, assim que ela
saísse por aquela porta a pedra no rim voltaria pro local onde
estava.
_Pra mim isso é placebo.
_De certa forma, sim. Mas há uma
verdade por trás do placebo que a medicina não compreende ou
prefere ignorar. Esse fenômeno é um fato comprovado, não tem como
se negar. O que ocorre, na verdade, é que nós somos os responsáveis
pelo aparecimento das doenças em nosso corpo e, da mesma maneira,
temos a capacidade de erradicá-la de nosso organismo. O efeito
placebo está ai para provar isso. Tudo está na mente. O que fiz foi
ativar esse mecanismo em Dona Maria usando a crença que ela tem de
que eu posso curá-la. E como ela já foi “curada” outras vezes e
tem um vasto exemplo de casos aqui na comunidade de pessoas que
também foram “curadas”, ela acredita piamente que não seria
diferente agora. Eu só dei um empurrãozinho. Aquele princípio de
que nós criamos nossa realidade se manifesta nesse caso também. Em
breve vou te explicar direitinho como isso funciona.
Trecho do meu livro Transcendente - O Despertar