sexta-feira, 27 de maio de 2016

Doença e cura

Os dias passavam ligeiros e tranquilos. Sentia que meu coração estava cicatrizando. A dor agora era suportável, apesar de a culpa resistir em me deixar. Naquela tarde de quarta-feira, tinha acabado de tomar um banho e contemplava meu semblante no espelho. Tinha recuperado parte dos quilos que havia perdido e meu aspecto estava um pouco mais apresentável. Entretanto, aquele cabelo comprido e a barba espessa ainda mantinham em mim um aspecto sujo, desleixado, com o qual eu não me incomodara até agora. Nesse dia, tive vontade de tirar aquele monte de pelo e parecer gente de novo, mas lembrei que não tinha trazido nada para me barbear.
_É... já tá mais que na hora de tirar essa barba, amigo._ Disse Sebastião ao me ver mirando o espelho e pegando na barba.
_Pois é, Tião, você não tem barba... e não vi nada aqui que possa me ajudar a resolver esse problema.
_Não se preocupe, Alan. A solução vai aparecer._ Nesse instante, alguém batendo palmas gritou lá de fora “Ô de casa!!” _Deve ser mais um paciente. Termine de se arrumar que eu vou ver quem é.
Me vesti e fui até a sala ajudar no que fosse preciso, como tinha feito todos os dias desde que chegara lá. Ao aparecer na sala, uma senhora idosa estava explicando o que ela sentia.
_Sinto uma dor muito forte aqui “nos quarto”, seu Tião, mais pro lado das costas. _Falava apontando para a região lombar.
_Deixe eu dar uma olhada, Dona Maria._ Sebastião encostou as mãos no local indicado, fechou os olhos por alguns segundos e respirou fundo. _Isso é rim.
_É grave, vou precisar ir pro hospital?
_Não será necessário. Alan, pega um copo com água pra mim naquele pote lá na cozinha, por favor. _Trouxe o copo conforme solicitado e entreguei em sua mão. Ele segurou-o com uma mão e estendeu a outra sobre a borda. Fechou os olhos e ficou por uns dois minutos como se estivesse fazendo alguma oração, assim me pareceu. _Tome, Dona Maria, beba essa água que as dores irão passar e vai ficar tudo bem._ Disse Sebastião entregando o copo.
_Deus lhe pague, meu filho. Deus lhe pague. _Após beber a água, Dona Maria se levantou satisfeita e foi embora. Não sem antes dar um abraço acalorado em Sebastião.
_Você tá usando placebo pra tentar curá-la? _Indaguei assim que ela fechou a porta.
_Não. Eu segurei a água e ela realizou a cura enquanto isso. O líquido foi um símbolo que usei para que ela acreditasse na cura. Caso contrário, assim que ela saísse por aquela porta a pedra no rim voltaria pro local onde estava.
_Pra mim isso é placebo.

_De certa forma, sim. Mas há uma verdade por trás do placebo que a medicina não compreende ou prefere ignorar. Esse fenômeno é um fato comprovado, não tem como se negar. O que ocorre, na verdade, é que nós somos os responsáveis pelo aparecimento das doenças em nosso corpo e, da mesma maneira, temos a capacidade de erradicá-la de nosso organismo. O efeito placebo está ai para provar isso. Tudo está na mente. O que fiz foi ativar esse mecanismo em Dona Maria usando a crença que ela tem de que eu posso curá-la. E como ela já foi “curada” outras vezes e tem um vasto exemplo de casos aqui na comunidade de pessoas que também foram “curadas”, ela acredita piamente que não seria diferente agora. Eu só dei um empurrãozinho. Aquele princípio de que nós criamos nossa realidade se manifesta nesse caso também. Em breve vou te explicar direitinho como isso funciona.

                                                           Trecho do meu livro  Transcendente -  O Despertar