quinta-feira, 14 de julho de 2011

Era uma vez, O Espírito

Era uma vez um Espírito perfeito, sublime, único, infinito. Sendo perfeito, nada havia a acrescentar em sua perfeição, visto que se houvesse, perfeito ele não seria. Perfeito também era o ambiente em que ele vivia, uma vez que esse ambiente fazia parte dele mesmo, era sua concepção mental. Devido a esta perfeição, seu ambiente era sereno, calmo, imutável.
Nessa infinitude imutável e perfeita, uma espécie de inquietação começou a surgir no Espírito, um sentimento único que ele nunca sentira antes, uma vontade de compartilhar sua bem-aventurança... este sentimento era uma novidade para o Espírito, pois o fez perceber que não se pode compartilhar quando se é único, infinito e auto-suficiente. Daí uma espécie de solidão surgiu em seu coração e sua inquietação aumentou. 
Com a inquietação, o ambiente do espírito perturbou-se e passou a haver movimento. Este movimento surpreendeu o Espírito que nunca concebera tal fenômeno em seu ambiente perfeito. O movimento era de uma beleza impar ao Espírito e quanto mais o admirava, este aumentava de intensidade e magnitude até que todo o ambiente tornou-se um imenso vórtice de luz e som cheio de beleza e harmonia.
Ponderando sobre o que acontecera, o Espírito percebeu que sua inquietação poderia resultar em algo bom, novo e grandioso! Decidiu, então, investir no fenômeno e concebeu a ideia de criar! Ao conceber esta ideia, uma explosão surgiu do centro do vórtice de seu ambiente mental e um novo ambiente surgiu, sublime, revolucionário e instigante, pois para o Espírito este ambiente, apesar de ser sua criação, era algo desconhecido e novo para ele. Mas devido a infinitude do Espírito, a simples contemplação de sua criação foi suficiente para sua total compreensão e toda aquela dança de luzes e sons deixou de ser novidade e o Espírito perturbou-se novamente.
Então o sentimento de solidão cresceu no Espírito e ele desejou ter companhia. Assim, o Espírito experimentou dividir-se e uma espécie de mitose aconteceu! E outro Espírito, de mesma natureza e perfeição surgiu. O Espírito agora se regozijava com sua contraparte e um relacionamento de perfeito amor surgia pela primeira vez. 
Em sua infinita sabedoria os Espíritos debatiam o que acontecera com a perfeição e ponderavam os resultados da criação do primeiro espírito. Juntos eles decidiram que deveriam continuar investindo neste "projeto" e evoluir sua ideia. O segundo espírito incrementou a criação do primeiro espírito e novos elementos surgiram no ambiente recém-criado. Depois de ponderar o resultado perceberam que suas mentes infinitas e perfeitas não poderiam continuar evoluindo o projeto indefinidamente pois a perfeição não pode acrescentar mais nada ao que já é perfeito, e temeram retornar ao estado inicial onde a solidão imperava. Daí eles decidiram criar outros espíritos que acrescentassem algo novo a sua criação, assim o projeto poderia ter continuidade. Desse modo, escolheram combinarem-se e gerar um novo espírito com aspectos de um e de outro, mas que,. entretanto, não teria sua completude, pois estes queriam, através deste novo espírito, experimentar o novo ambiente sem os parâmetros da perfeição e da infinitude. Daí surgiu um novo espírito, lindo, sublime. Entretanto, finito e imperfeito.
A imperfeição do terceiro espírito foi algo estimulante para o primeiro casal, pois trouxe consigo a dúvida, a pergunta e a incompreensão. O casal tinha que explicar a criação e o propósito do terceiro espírito nisso tudo. Apesar de imperfeito, o terceiro espírito era igualmente poderoso, sábio e criativo. Acrescentando novos elementos a criação do primeiro espírito. 
Depois de um tempo, a solidão também atingiu o terceiro espírito, pois este era fruto dos dois primeiros espíritos e tinha a mesma natureza e essência. Como este não partilhava da onisciência dos seus criadores, não sabia o que acontecera antes e não tinha consciência que este tinha sido o sentimento que estimulara o primeiro espírito a criar. Seus criadores, sabedores do que significa a solidão, repetiram o processo e criaram um novo espírito semelhante ao terceiro e este foi sua consorte. Este novo espírito manifestou também sua inteligência e criatividade particular e acrescentou mais elementos a criação, assim, os dois espíritos originais concluíram que a concepção de novos espíritos era bom para criação, pois a incrementava e evoluía o projeto, conforme sua intenção inicial. 
Assim um processo foi criado e cada dupla de espíritos poderia criar espíritos combinando aspectos do casal e gerando espíritos semelhantes. Assim, uma miríade de novos espíritos surgiu no cosmos e a criação prosperou e evoluiu conforme a criatividade de cada um.
Depois de já haver um verdadeiro universo heterogêneo e belo, o primeiro espírito, agora chamado pela sua família de Criador Primordial, resolveu ampliar o conceito de criação e idealizou um universo mais complexo e menos maleável do que o ambiente criado a partir de sua própria substância mental perfeita. Assim, o Criador Primordial decidiu condensar seu pensamento de maneira tal que criaria um novo aspecto de realidade totalmente diferente do ambiente familiar a que todos podiam criar a vontade e sem qualquer dificuldade. Esta energia condensou-se em um ponto de luz fora da mente do Criador e do universo primordial. Todos os espíritos se admiraram de ver a novidade que surgira à parte deles. E também se assombraram em ver que este ponto luminoso não respondia ao seu ímpeto criador, pois o ponto era o pensamento do criador materializado e só ele tinha poder sobre este novo elemento. 
Ao ver o resultado de seu esforço o Criador ficou feliz e compartilhou com sua família o conhecimento do que viria a ser aquele ponto luminoso. E assim, depois de exposto o plano o Criador tocou o ponto e uma enorme explosão se deu. Então um espaço cheio de caos se abriu como um balão e começou a crescer e expandir-se. Os outros espíritos perguntaram ao Criador como poderiam contribuir com aquele universo magnífico que crescia à parte deles. Então o Criador explicou que a única maneira de eles contribuírem com seu novo projeto seria imergindo neste universo e criando a partir de si mesmos. Assim, alguns espíritos pioneiros se arriscaram a aventurar-se no desconhecido e quando imergiram no novo universo se tornaram imensas esferas de luz. Ao tornarem-se essas esferas cheias de matéria vindas do pensamento do Criador, então eles puderam experimentar a mente do primeiro espírito e compreenderam seu intento em toda sua plenitude. Ao compreenderem, estes espíritos agora tornados em matéria condensada explodiram em vórtices de matéria e rodopiavam numa dança de luz e som. 
Vendo a beleza que se tornaram os espíritos pioneiros, os outros filhos do Criador mergulharam no universo em formação e a medida que entravam, eram atraídos para os vórtices formados pelos espíritos pioneiros e ao adentrar nos vórtices, estes se tornaram em esferas luminosas feitas da matéria expelida pelos vórtices. Como resultado disso os espíritos pioneiros tornaram-se as galáxias e os que vieram depois tornaram-se estrelas.
Depois deste frenesi inicial o caos foi dando lugar a uma dança harmônica e cheia de pontos luminosos. Com a essência de si mesmos os espíritos estelares continuaram a manipular a matéria de seus próprios corpos estelares e criaram esferas não-luminosas que eram preenchidas com espíritos vindos do universo primordial, estes por sua vez manipulavam sua própria matéria e tornavam-se esferas planetárias, cada uma com as particularidades de seu espírito criador. 
Assim, mais e mais espíritos quiseram fazer parte deste ambicioso projeto e mergulhavam no agora imenso pensamento condensado do Criador Primordial. Estes espíritos entravam e criavam coisas novas nas esferas planetárias. Então, Saturado de consciência criadora, alguns espíritos quiseram não mais criar e sim experimentar o belo mundo que o pensamento do Criador havia se tornado. Então, estes espíritos fragmentaram-se a si mesmos e espalharam estes fragmentos em suas esferas. Estes fragmentos conscientes passaram a ser os seres vivos habitantes dos planetas. Estes seres, como eram partes de um espírito criador, passaram a evoluir e crescer consciencialmente até tornarem-se conscientes de si mesmos e do universo criado. Surgiam aí os primeiros fragmentos conscientes do universo.
O que foi dito inicialmente e planejado pelo Criador Primordial se concretizara finalmente. E o que os espíritos não sabiam e agora percebiam era que o próprio Criador experimentava sua criação através deles e de seus fragmentos. Assim, nunca mais haveria monotonia na infinitude e nem solidão na perfeição. E o Criador Primordial pode enfim compartilhar sua bem-aventurança com sua bela criação.

Um abraço.